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Ferritina alta? O que esse indicador aponta e como ele pode estar associado a síndromes metabólicas

Ferritina alta é um achado relativamente comum em exames laboratoriais. Essa proteína desempenha um papel importante no armazenamento do ferro no organismo, ao mesmo tempo que pode ser um marcador relevante para o diagnóstico de uma série de condições clínicas, como a hemocromatose. Além disso, a elevação da ferritina pode estar associada a quadros inflamatórios gerados a partir da resposta a diferentes síndromes metabólicas, incluindo diabetes tipo 2 e obesidade1.

No entanto, ainda não há critérios validados sobre o diagnóstico e o manejo adequado da hiperferritinemia (ou seja, a elevação de ferritina no organismo) atrelada a disfunções metabólicas.

Para mudar isso, um artigo publicado em março de 2023 traz a análise da literatura disponível sobre o assunto para estabelecer uma proposta de um consenso em torno desse problema, tornando possível estimar com mais segurança os benefícios das opções de tratamento.

 

O papel da ferritina no organismo

Com a alimentação, o organismo obtém o ferro necessário para uma série de funções essenciais. Contudo, nem todo o nutriente ingerido é utilizado pelo organismo. Parte dele se acumula em “depósitos” que armazenam o excedente, garantindo acesso a ele sempre que preciso. Isso acontece porque o corpo é incapaz de absorver todo o ferro ingerido, devido a suas limitações fisiológicas2.

O armazenamento do ferro não utilizado imediatamente é feito principalmente pela ferritina2. Ela é uma proteína que tem no seu núcleo moléculas de ferro, garantindo que o nutriente esteja disponível ao organismo em qualquer momento.

Acredita-se que entre 5 e 19% das pessoas podem apresentar um número acima do normal para ferritina, considerando mesmo indivíduos saudáveis3.

 

Os riscos da ferritina alta

Quando um paciente tem um exame que aponta para uma alta concentração de ferritina no sangue, é essencial que ele seja submetido a uma avaliação cuidadosa para que a causa desse acúmulo seja identificada. Embora possa haver variações, o limite recomendado para a presença dessa proteína é de 200 μg/L para mulheres e 300 μg/L para homens4. Vale reforçar que nem sempre a ferritina alta está imediatamente associada ao acúmulo de ferro no organismo.

De toda forma, em um primeiro momento, a ferritina alta pode ser indicativo de um quadro de hemocromatose. Tal doença tem caráter hereditário e se caracteriza pelo acúmulo em excesso de ferro no organismo. A longo prazo, isso gera lesões em diferentes tecidos e órgãos (como o fígado, por exemplo) e outras complicações por conta da sobrecarga de ferro5.

Por outro lado, a elevação de ferritina pode estar associada também a síndromes metabólicas. Nesses cenários, disfunções no metabolismo fazem com que o organismo desenvolva quadros inflamatórios que provocam a elevação da quantidade de ferritina no corpo.

Desde o final dos anos 90 foi estabelecida a conexão entre o excesso de ferritina no organismo e quadros de resistência à insulina, por exemplo6.  Com isso, além do acúmulo de ferro, teremos um elevado risco no aparecimento de problemas associados a tal quadro.

 

A definição de quadros de hiperferritinemia alta associadas a síndromes metabólicas

 

No consenso que busca delimitar parâmetros para os casos de hiperferritinemia associada a problemas metabólicos, os autores apontam que exames que diagnosticam a ferritina sérica são a melhor forma de identificar alterações nesse indicador1. Somado a isso, o diagnóstico da condição se dá com base nos seguintes parâmetros1:

 

  • Presença de ferritina acima de 200 μg/L para mulheres e 300 μg/L para homens;
  • Evidência de acúmulo de gordura no fígado por meio de exames apropriados para esse fim.
  • Diagnóstico de diabetes tipo 2 e/ou obesidade.

 

Alternativamente, a presença de dois ou mais dos fatores listados abaixo acompanhados de um quadro de resistência à insulina também podem compor o diagnóstico do problema1:

 

  • Sobrepeso ou circunferência abdominal acentuada;
  • Triglicérides elevado (superior a 150 mg/dl);
  • Baixo nível de colesterol LDL (menor que 45 mg/dl em homens e 55 mg/dl em mulheres);
  • Nível glicêmico em jejum acima de 100 mg/dl;
  • Hipertensão arterial.

 

Os estágios e o manejo da hiperferritinemia metabólica

 

Quando for constatado um alto nível de ferritina no organismo, o responsável pelo acompanhamento deve avaliar se já está havendo sobrecarga de ferro. A suspeita se torna ainda mais relevante sempre que a ferritina superar os 550 μg/ml. Os autores do consenso propõem dividir os quadros de hiperferritinemia metabólica em 3 estágios1:

 

  • Grau 1: sem acúmulo significativo de ferro;
  • Grau 2: acumulação moderada de ferro;
  • Grau 3: acumulação moderada ou acentuada de ferro, com ferritina acima de 1000 μg/ml e a presença de depósitos de ferro no fígado acima de 74 μmol/g.

 

Por fim, diante da presença de ferritina alta e da confirmação do quadro de hiperferritinemia metabólica, o paciente deve ser orientado a implementar mudanças no estilo de vida que contribuam para reduzir o risco das disfunções que agravam o problema. Entre as medidas para isso estão, por exemplo, a redução do peso e o controle da glicemia e/ou colesterol, etc. No mais, pode haver prescrição de medicamentos para o manejo de riscos cardiovasculares1.

 

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Referências

 

  1. Valenti, L., Corradini, E., Adams, L. A., Aigner, E., Alqahtani, S., Arrese, M., ... & Zoller, H. (2023). Consensus Statement on the definition and classification of metabolic hyperferritinaemia. Nature Reviews Endocrinology, 1-12. Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41574-023-00807-6 Acesso em 10.abril.2023.
  2. Braunstein, E. M. (2021, ). Anemia por deficiência de ferro. Manuais MSD.  Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/hematologia-e-oncologia/anemias-causadas-por-eritropoese-deficiente/anemia-por-defici%C3%AAncia-de-ferro Acesso em Acesso em 10.abril.2023.
  3. Adams, P. C., Reboussin, D. M., Barton, J. C., McLaren, C. E., Eckfeldt, J. H., McLaren, G. D., ... & Sholinsky, P. (2005). Hemochromatosis and iron-overload screening in a racially diverse population. New England Journal of Medicine, 352(17), 1769-1778. Disponível em: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/nejmoa041534 Acesso em 10. abril.2023.
  4. Mesquita, F. (2023). Hiperferritinemia: Conceitos e diferentes etiologias. Disponível em: PEBMED. https://pebmed.com.br/hiperferritinemia-investigacao-e-manejo/ Acesso em Acesso em 10.abril.2023.
  5. Hamilton, J. P. A. (2022, September 6). Hemocromatose hereditária. Manuais MSD. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/hematologia-e-oncologia/sobrecargade-ferro/hemocromatose-heredit%C3%A1ria Acesso em 10. abril.2023.
  6. Fernández-Real, J. M., Ricart-Engel, W., Arroyo, E., Balançá, R., Casamitjana-Abella, R., Cabrero, D., ... & Soler, J. (1998). Serum ferritin as a component of the insulin resistance syndrome. Diabetes care, 21(1), 62-68. Disponível em: https://diabetesjournals.org/care/article/21/1/62/19856/Serum-Ferritin-as-a-Component-of-the-Insulinhttps://diabetesjournals.org/care/article/21/1/62/19856/Serum-Ferritin-as-a-Component-of-the-Insulin Acesso em 10.abril.2023